10.25.2007

Não me sinto inspirada...Faulkner disse uma vez que escrevia todos os dias, porque todos os dias se sentia inspirado...

Para mim, acima da inspiração está um outro factor tão ou mais importante para quem quer e ama escrever: a auto-censura. (Auto-critica...é mais leve.)

Em excesso, aniquila por completo o processo criativo.

Em falta, é capaz de tornar tão penosa a leitura de um qualquer texto, como caminhar descalço ao Sol em cima de cardos.

10.22.2007

O despertador. O mau humor...ultimamente é ele quem me acorda...
Vá, são horas, digo para mim mesma, lutando contra o sono, tentando ficar bem disposta enquanto adivinho se o Sol continua a brilhar intensamente como tem sido hábito.
É preciso levar o B à escolinha, mas antes vesti-lo, vestir-me, fazer com que ele beba o leitinho maravilhoso...sem efeito! Estamos prontos, mas atrasados. N faz mal, nesta idade não me parece que cinco minutos vão fazer muita diferença, entre os seus atarefados compromissos que já o aguardam. Na salinha muitos meninos ensonados, alguns correm para o B, é engraçado ver como já fez algumas amizades...o que dirão eles uns aos outros? Naquele sibilar de meias palavras e sons codificados (eu acho que o B veio com o idioma trocado! parece-me tipo mandarim ou coisa parecida!!) lá se devem entender...!

Bom, o mau-humor começa finalmente a dissipar...o Sol atinge-me em cheio nos olhos, apesar dos óculos escuros, e lá vamos nós! Mais um dia, à procura...a tentar...nesta minha maratona, em que tento lidar da melhor forma que conheço com os meus defeitos e com os dos outros....a minha luta continua!!! Não ando na melhor época ( é um bocado impossível quando além de desempregada, me encontro falida, nada contente com a minha imagem e sem grandes perspectivas de melhoramento! junte-se a tudo isto o facto de ainda n ter conseguido tirar o raio da carta e por este andar, não irei conseguir tão cedo!!)

Bom, por tudo isto, estou prestes a iniciar um...diário. sim pode ser através do blog, pode ser lido em hasta pública ou não, não me interessa, não tenho a pretensão de ganhar nenhum prémio nobel da literatura, nem me considero uma excelente escritora. Por isso, é bem provável que de quando em quando lá apareça um errozito ou outro...ja ficam avisados!

O intuito deste diário é tão somente o puro desabafo...já que às vezes por mais gente que tenhas à volta, não te sentes suficientemente à vontade para desbafar da maneira que te apetece...e por que todos nós temos os nossos problemas, blá, blá, blá...pois bem, a partir de agora se tiver algum problema que realmente me esteja a incomodar, alguma alegria que queira partilhar ou simplesmente uma besteira que valha a pena ser dita (?) ainda que incompreensível para todos os que eventualmente me lerem, vou escrevê-la!

tenho dito! vou me preparar para mais um dia, uma semana de entrevistas (in)profícuas!!

10.20.2007

O velho marinheiro desceu uma vez mais à praia donde tantas vezes viu partir os seus companheiros, nas pequenas embarcações roídas pelo tempo e pelas ondas, que o mar ali nunca fora meigo. Deitou um olhar rápido ao largo, para confirmar as pequenas luzes que piscavam como estrelas, nos pequenos barquinhos que se preparavam para o anoitecer. Dentro de um deles estavam os seus dois filhos, que como bons rapazes que eram haviam aprendido o ofício do pai, para que chegada a hora de o substituírem o fizessem naturalmente, sem dificuldades. De resto nada mais havia para fazer naquela pequena aldeia de pescadores, nem num raio de centenas de quilométros, já que esta era uma daquelas aldeolas esquecidas pelo tempo, pelo progresso, onde tudo era ainda artesanal e poucos eram os contactos com o mundo exterior. Viviam em comunidade, os poucos habitantes que persistiram ao passar dos anos. As mulheres faziam os trabalhos domésticos e alguns produtos que trocavam ou vendiam na feira mensal. Eram, na sua generalidade, senhoras de meia idade, habituadas às longas ausências dos maridos, por dias e noites a fio, e por isso eram caladas, mesmo tendo a possibilidade de falarem entre si. Como se estivessem constantemente em oração, velando pelo regresso dos homens que andavam no mar. Pediam por eles a toda a hora e por isso havia pouco tempo para conversas, deixando espaço apenas para o indispensável a ser dito. Não eram vidas tristes, porque nenhuma delas conheceu outra forma de vida. A felicidade destas mulheres passava pela aceitação do seu modo de vida, condição que lhes era passada de geração em geração. As frustações do dia a dia com que outros seres humanos têm de lidar, desde os pequenos contratempos capazes de abalar o nosso bem estar, até às maiores atrocidades cometidas em nome de ambições desmedidas, naquele lugar simplesmente não existiam. E não porque fosse uma aldeia perfeita, humanamente isso seria impossível. Mas porque simplesmente todos os seus habitantes tinham em mente um só desejo: agradar ao Mar que lhes dava o alimento e razão para existirem. Não conheciam outra filosofia que não fosse a relacionada com os mandamentos das marés. (continua)

Desencontros

O vazio. Não raras vezes me sinto assim. Diante de um enorme vazio. Eu sei, isso não existe, basta um som para o vazio ser preenchido, um gesto, por menor que seja. Às vezes o maior movimento é aquele que menos custa fazer. O que quero dizer, nem eu sei muito bem, mas isso tambem é normal, não sabermos o que queremos dizer, mas ter a sensação que há muito pra dizer, e muitos poucos dispostos a ouvir....não faz mal, para isso servem estas novas tecnologias, que diga-se de passagem têm o mesmo efeito da velha folha do caderno rabiscado. Pensando melhor, este era bem mais pessoal, adquiria um aspecto familiar, gasto, como o velho peluche de uma criança que vai para todo o lado com o seu amigo. Então porque substituímos esse companheiro por um teclado frio e monótono, que despeja ao ritmo mecânico de dedos nervosos , letras negras desprovidas de cheiro e sentido? Talvez porque ainda que disfarçadamente temos a esperança que algúem pare, leia as nossas linhas confusas e diga uma palavra que desperte um sentido, que preencha por momentos aquele vazio crónico...vais ser tu, aquele que me percebe melhor que ninguém? que me sabia tão bem "desparonizar" (nem sei muito bem se esta palavra existe, mas calculo que não..), com quem eu gostava tanto de falar...afastámo-nos tanto, mas eu sei que um dia nos vamos voltar a encontrar, eu sei. O que nos aconteceu?...(continua)